O assassinato do Padre Marcelo

O assassinato do Padre Marcelo
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Era um sujeito de ideias e hábitos estranhos. No meio das suas tralhas ele guardava um caderninho verde onde costumava listar nomes de pessoas famosas que gostaria de ver mortas e esquartejadas em praça pública. Cada figura candidata a cadáver recebia uma nota que ia de 7 a 9; não me pergunte por que – já disse que o sujeito era estranho, sei que quanto maior a nota maior era o desejo de ver aquela pessoa inerte no caixão. Na lista bem organizada havia todo tipo de gente de jogadores de futebol e políticos a líderes religiosos, nas suas devidas categorias e com suas notas em destaque se encontravam Pelé e Neymar, Malafaia e Bispa Sonia, Maluf e George Bush, sim era uma lista internacional. Dizem que quando alguém da lista ia a óbito havia uma comemoração discreta, na morte da Hebe foram apenas três taças de champanhe. Na lista, alguns amados outros odiados pelo povo. Até mês passado o Padre Marcelo perdia feio para todos esses, sua era nota 7,5; acreditava ele que o pior castigo, as orelhas de abano, já seria uma maldição divina pior que a morte. Como disse, foi assim até semana passada, foi quando o padre cantor conseguiu inaugurar sua nova igreja, um templo para dezenas de milhares de fiéis justamente no bairro onde o sujeito morava. O padre levaria o inferno àquele lugar, continue lendo



além do barulho e da sujeira, levaria congestionamentos monumentais, camelôs vendendo imagens de santos e, quem sabe, camisetas do tipo: visitei o padre e me lembrei de você! Parado no trânsito, o ódio cultivado à distância se tornou um sentimento visceral, cotidiano, sentido a cada hora do dia. Já não lhe bastava desejar a morte era preciso precipitá-la e esse pensamento foi sendo cultivado por dias e dias e o desejo de vingança foi tomando conta daquele espírito atormentado. Um dia tomado pelos piores sentimentos, com a alma perturbada resolveu apelar para a palavra de Deus, colocou sua melhor roupa e saiu em direção ao templo, mas chegou no fim da missa e se deparou com o santo homem abençoando os fiéis. Andando no meio da multidão se aproximou e de braços abertos pediu um abraço, foi quando tirou o estilete do bolso direito e cortou o pescoço do padre. O sangue jorrou pela batina branca e o corpo foi ao chão; sem esboçar reação, cantando, antes de ser preso o sujeito ainda lhe fez um último pedido: erguei as mãos e dai glória a Deus! Erguei as mãos e dai glória a Deusa. 




Obs.: nenhum líder religioso foi morto ou agredido fisicamente durante a realização desse texto