Roubar livros,
cultivar o amor
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Atenção: isso não é uma apologia ao crime, estúpido!
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Estão todos ali, perfilados, imóveis, esperando um gesto, um toque, um
pouco de atenção. Concentrados em seus campos, cada um deles com seu número,
lugar determinado e marcas de carimbo, cada um com sua ficha através das quais
eles podem ser encontrados, ordenados e rotulados. Nos seus corpos uma
história, talvez uma vida. São centenas, milhares, quase empilhados, todos em
silêncio sepulcral mas vivos e prontos para nos mostrar um mundo. Um ao lado do
outro, estão ali desejando um toque, uma escolha, um chamado, como as moças que
no salão de baile esperavam um convite para uma dança. Eles te olham como quem,
cheio de más intenções, pudessem dizer: me leve para sua casa, me tenha em suas
mãos, me guarde em sua mente, me deixe te dar prazer, me deixe fazer parte da
sua vida. São livros, presos em bibliotecas como crianças depositadas em
orfanatos, não desejam muito, querem apenas um pouco de atenção, um olhar, uma
mão estendida, desejam ser percebidos, querem que cada um de nós, humanos,
possa reconhecer que eles têm vida em suas páginas e que elas podem de algum
modo nos ser úteis. Em cada palavra e cada verbo há uma pulsação, em cada frase
de cada capítulo um amontoado de sentidos e sentimentos. Não há crueldade mais
vil que a do canalha que não se comove com a solidão de um livro abandonado,
esquecido em estantes frias de corredores vazio ou da indiferença em relação às
angustias daqueles que não aceitam ser somente um número, dos que não desejam
ter um preço, dos que não querem ser mercadoria. Continue lendo
O livro, o espírito preso ao papel implora um olhar, espera uma leitura. Acolher livros vai além do hábito de cultivar amigos, é um imperativo categórico da moral, é um dever do espírito. Se a pessoa que adota uma criança órfã engrandece a sua alma, se é moralmente digno o sujeito que recolhe animais abandonados também é grande aquele que pega aqueles livros esquecidos, os leva para casa e lhes dá amor e atenção. Nós não podemos roubar um livro, livros não podem ser roubados, podem ser conquistados e nós apenas nos deixamos levar pelos sentimentos que nos unem, a nós e ao livro. Quando levamos para casa o livro que por direito não deveria nos pertencer, agimos contra a lei mas ao lado da justiça, agimos assim não apenas por conta dos nossos mais nobres valores mas também por nos deixarmos seduzir pelo canto inaudível de cada uma das suas páginas. E quem poderá nos condenar?
O livro, o espírito preso ao papel implora um olhar, espera uma leitura. Acolher livros vai além do hábito de cultivar amigos, é um imperativo categórico da moral, é um dever do espírito. Se a pessoa que adota uma criança órfã engrandece a sua alma, se é moralmente digno o sujeito que recolhe animais abandonados também é grande aquele que pega aqueles livros esquecidos, os leva para casa e lhes dá amor e atenção. Nós não podemos roubar um livro, livros não podem ser roubados, podem ser conquistados e nós apenas nos deixamos levar pelos sentimentos que nos unem, a nós e ao livro. Quando levamos para casa o livro que por direito não deveria nos pertencer, agimos contra a lei mas ao lado da justiça, agimos assim não apenas por conta dos nossos mais nobres valores mas também por nos deixarmos seduzir pelo canto inaudível de cada uma das suas páginas. E quem poderá nos condenar?
Atenção: isso não é uma apologia ao crime, estúpido!